Pensar es llenarse de tristeza
To think is to be full of sorrow
J. Keats, “Ode to a nightgale”
Pensar es llenarse de tristeza
y cuando pienso
no en ti
sino en todo
sufro
Antes yo vivía sola
ahora vivo rodeada de palabras
que cultivo
en mi jardín de penas
Yo las sigo
y ellas me siguen:
son el exigente cortejo
que me persigue
En todas partes
oigo su inmenso clamor
En O pavão negro.
Príncipe
Príncipe:
Era de noche cuando yo llamé a tu
puerta
y en la oscuridad de tu casa tú me abriste
y no me conociste.
Era de noche
son mil y una
las noches en las que llamo a tu
puerta
y tú me abres
y no me reconoces
porque yo jamás llamo a tu puerta.
Sin embargo
cuando yo llamaba a tu puerta
y tú me abriste
tus ojos de repente
me vieron
por primera vez
como siempre cada vez es la primera
la última
instancia del momento en el que
surjo
y tú me ves.
Era de noche cuando yo llamé a tu
puerta
y tú me abriste
y me viste
como un náufrago susurrando algo
que nadie comprendió.
Pero era de noche
y por ello
supiste que era yo
y me abriste
en la oscuridad de tu casa.
Ah era de noche
y de súbito todo era solo
labios párpados intumescencias
cubriendo el cuerpo de flotantes
volteos
de palpitaciones trémulas aleteando
por el rostro.
Besaba tus ojos por dentro
besaba tus ojos pensados
te besaba pensando
y tendía la mano sobre mi
pensamiento
corría hacia ti
mi playa jamás alcanzada
imposibilidad deseada
de tan solo poder pensarte.
Son mil y una
las noches en que no llamo a tu
puerta
y me abres
En: Um calculador de
improbabilidades
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Ana Hatherly nació en Oporto en 1929; se licenció en
Filología Germánica por la Universidad de Lisboa y se doctoró en Literaturas
Hispánicas por la Universidad de Berckeley. Actualmente es catedrática en la Universidad
Nova de Lisboa y un nombre destacado en el estudio del Barroco peninsular,
movimiento que influyó mucho en su propia producción poética. Su primer libro
de poesía, Um ritmo perdido, se publicó en 1958 y a partir de esta fecha no
ha dejado de publicar varios libros de poemas, ensayos, traducciones, etc.,
convirtiéndose en un nombre de referencia de la poesía visual portuguesa. Murió el 5 de agosto de 2015.
Ana Hatherly, en Um calculador de improbabilidades |
Ana Hatherly, en Um calculador de improbabilidades |
Como
principales características y marcas de su poesía podemos apuntar el fragmentarismo, el silencio, la recreación a
partir de textos de otros autores, en diálogos intertextuales más o menos
evidentes. El barroquismo que emerge de sus poemas otorga a los textos una
dimensión lúdica explorada por la autora de forma sistemática, en claro contraste
con otros textos de influencia minimalista, casi tocando los haiku.
Ana Hatherly, en A mão inteligente |
Variados ejemplos de la obra de Ana Hatherly demuestran la importancia de
la autora como iniciadora de una poesía experimentalista de vanguardia, que no
conoce límites en su forma de explotar la palabra, usando un método (que
podemos caracterizar como científico) que parte de la observación de su mundo
contemporáneo y de toda la tradición literaria, formula hipótesis y ensaya con
el lenguaje para llegar a algo nuevo, llevando la palabra incluso hasta el
ámbito de la pintura.
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Pensar é encher-se de tristeza
To think is to be full of sorrow
J. Keats, “Ode to a nightgale”
Pensar é encher-se de tristeza
e quando penso
não em ti
mas em tudo
sofro
Dantes eu vivia só
agora vivo rodeada de palavras
que eu cultivo
no meu jardim de penas
Eu sigo-as
e elas seguem-me:
são o exigente cortejo
que me persegue
Em toda a parte
ouço seu imenso clamor
e quando penso
não em ti
mas em tudo
sofro
Dantes eu vivia só
agora vivo rodeada de palavras
que eu cultivo
no meu jardim de penas
Eu sigo-as
e elas seguem-me:
são o exigente cortejo
que me persegue
Em toda a parte
ouço seu imenso clamor
En O pavão negro.
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Príncipe
Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me
En: Um calculador de improbabilidades
[Editado]
Tisana 459
ResponderEliminarO artista, o poeta, o escritor, os que preguntam: todos são caçadores de simulacros, incansáveis calculadores de improbabilidades. Pombas ou abutres, frágeis canários ou escondidos melros, raspam, rasgam, rompem, sempre roendo as suas própias garras. O invisível que há neles então emerge.
El artista, el poeta, el escritor, los que preguntan: todos son cazadores de simulacros, incansables calculadores de improbabilidades. Palomas o buitres, frágiles canarios o mirlos ocultos, raspan, rasgan, rompen, siempre royendo sus propias garras. Lo invisible que hay en ellos emerge entonces.